26.8 C
Teresina

O Universo Está Repleto de Moléculas Orgânicas Complexas

Published:

Dez anos atrás, a sonda Rosetta, da Agência Espacial Europeia, alcançou um aglomerado de poeira e gelo do tamanho de uma montanha. Por dois anos, a sonda acompanhou seu alvo, o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, analisando a poeira e o gás que emanavam dele. O objetivo era buscar pistas sobre a origem do sistema solar e, em especial, de uma classe de moléculas específicas.

As moléculas orgânicas — compostos que contêm carbono — são abundantes na Terra, especialmente nos organismos vivos. Chamadas de “blocos fundamentais da vida”, elas possuem essa denominação por uma boa razão: os átomos de carbono podem se ligar quimicamente a quatro outros átomos, formando cadeias longas e estáveis que servem de “espinha dorsal” para moléculas biológicas complexas.

A missão Rosetta e outras expedições mostraram o quão comuns essas moléculas orgânicas são também no espaço.

“Rosetta realmente mudou a nossa visão”, disse Nora Hänni, química da Universidade de Berna, que analisa os dados da sonda. Em 2022, Hänni e sua equipe processaram os dados de apenas um dia da missão e identificaram 44 moléculas orgânicas diferentes. Algumas eram bastante complexas, com mais de 20 átomos. A Rosetta detectou traços de glicina, um aminoácido essencial para as proteínas. Mais recentemente, Hänni identificou dimetil sulfeto — um gás que, na Terra, é produzido apenas por organismos vivos.

O que a Rosetta fez pelos cometas, as missões Hayabusa2 (Japão) e Osiris-Rex (NASA) estão fazendo pelos asteroides. Em 2020 e 2023, respectivamente, essas missões trouxeram amostras dos asteroides Ryugu e Bennu para a Terra. Os cientistas ainda estão analisando o material, mas já identificaram uma abundância de moléculas orgânicas. Só em Ryugu, há pelo menos 20 mil tipos diferentes, incluindo 15 aminoácidos distintos.

“É praticamente tudo que seria necessário para a vida emergir”, afirmou Philippe Schmitt-Kopplin, geoquímico orgânico da Universidade Técnica de Munique.

As origens químicas da vida

A pergunta de como a química simples levou a organismos vivos complexos permanece um dos maiores mistérios da ciência. Estudos recentes de material de asteroides e cometas reforçam a ideia de que os primeiros passos para essa transformação acontecem no espaço — e com grande facilidade. Em todo lugar que observamos no cosmos, encontramos os ingredientes básicos da biologia.

Por exemplo, a lua Titã, de Saturno, tem lagos de metano e etano líquidos, compostos por moléculas orgânicas. As dunas de Titã, feitas de hidrocarbonetos, também são orgânicas. Moléculas chamadas tolinas provavelmente dão a Plutão sua coloração avermelhada. Meteoritos são verdadeiros “zoológicos” de compostos orgânicos. E a poeira orgânica interestelar, que flutua entre as estrelas, chega até Saturno, caindo de seus anéis.

Os cientistas questionam de onde vêm essas moléculas. Elas se formaram nos ambientes onde são encontradas, ou existiam muito antes de corpos como Titã ou Plutão se formarem? Como essa complexidade química se desenvolve sem evolução biológica?

Christopher Glein, cientista planetário do Instituto de Pesquisa do Sudoeste, afirma: “Nós, que buscamos sinais de vida, precisamos entender como os planetas podem adquirir moléculas orgânicas na ausência dela.”

Um legado interestelar

Moléculas Orgânicas
Créditos da imagem: Pexels

No ano passado, pesquisadores detectaram a ocorrência mais antiga conhecida de química orgânica no universo. O Telescópio Espacial James Webb observou uma jovem galáxia, como ela era 1,5 bilhão de anos após o Big Bang, e identificou hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs). Na Terra, essas moléculas estão presentes em alcatrão, combustíveis fósseis e fumaça de madeira. No espaço, são parte de asteroides e poeira interestelar.

Essas moléculas provavelmente se formaram durante os estágios finais das primeiras estrelas, quando ventos estelares carregados de carbono se combinaram em estruturas semelhantes a fuligem. Segundo Karin Öberg, astroquímica de Harvard, o processo “não é muito diferente da combustão que entendemos na Terra”.

Outra via importante de formação ocorre em nuvens moleculares densas e frias no espaço. Nessas regiões, grãos de poeira revestidos de gelo facilitam reações químicas à medida que átomos se fixam em suas superfícies. Em 2020, cientistas confirmaram que o metano pode se formar assim, com átomos de carbono e hidrogênio se ligando em grãos gelados.

Essas reações são impulsionadas por radiação cósmica e luz ultravioleta, que quebram moléculas e criam radicais livres altamente reativos. A partir de ingredientes simples como metanol, essas reações geram uma diversidade impressionante de moléculas.

Alice Booth, astrônoma de Harvard, destaca que, mesmo bilhões de anos antes do nascimento do Sol, já era possível formar moléculas orgânicas bastante complexas.

A química dos sistemas planetários

Quando estrelas e planetas se formam a partir de nuvens de gás e poeira, as moléculas orgânicas dessas nuvens conseguem sobreviver a esse processo turbulento? Observações recentes indicam que sim.

Discos protoplanetários, estruturas em forma de frisbee que cercam estrelas recém-nascidas, são ricos em moléculas orgânicas. Booth e seus colegas identificaram grandes quantidades de metanol em um desses discos, sugerindo que ele foi herdado de nuvens moleculares anteriores.

Condições variáveis nesses discos — com áreas quentes e expostas à radiação contrastando com regiões frias e protegidas — podem promover novas formas de complexidade química, assim como ciclos de secagem e umidade na Terra podem ter impulsionado a origem da vida.

Um vislumbre do passado

Cometas e asteroides preservam pistas sobre a química do sistema solar primitivo. Cometas, como o 67P estudado pela Rosetta, são remanescentes quase intocados do disco protoplanetário. Já asteroides, que sofreram aquecimento e exposição à água líquida, desenvolveram moléculas orgânicas ainda mais complexas.

Meteoritos como o Murchison, que caiu na Austrália em 1969, contêm 96 aminoácidos diferentes, muito mais do que os 20 usados pela vida terrestre. As missões Osiris-Rex e Hayabusa2 confirmaram que Bennu e Ryugu também são repletos de moléculas complexas.

Os ingredientes da vida

Na Terra primitiva, essas moléculas orgânicas deram um salto notável em complexidade, organizando-se em algo vivo. Alguns cientistas sugerem que o “kit inicial” de matéria orgânica veio do espaço, indicando que os ingredientes da vida são comuns no universo.

Ainda assim, determinar se moléculas orgânicas em outros mundos são sinais de vida ou não é um desafio. Compostos como dimetil sulfeto, encontrados no 67P, mostram que a química não biológica pode criar complexidade surpreendente.

Missões futuras, como a Dragonfly para Titã, continuarão a buscar respostas, revelando não apenas a história da vida, mas também os processos que moldam a complexidade do universo.

“Química orgânica”, conclui Schmitt-Kopplin, “é simplesmente química normal no cosmos. Sempre há uma coevolução entre o mundo mineral e o orgânico.”

FAQ – Perguntas Frequentes sobre Moléculas Orgânicas

1. O que são moléculas orgânicas?

Moléculas orgânicas são compostos químicos formados principalmente por carbono, além de hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e outros elementos. Elas são a base da vida e estão presentes em todos os organismos vivos.

2. Quais são os principais tipos de moléculas orgânicas?

Os principais tipos são:

  • Carboidratos: fornecem energia.
  • Lipídios: armazenam energia e formam membranas celulares.
  • Proteínas: desempenham funções estruturais e enzimáticas.
  • Ácidos nucleicos: como DNA e RNA, que armazenam e transmitem informações genéticas.

3. Qual é a importância das moléculas orgânicas na vida?

Elas são fundamentais para os processos biológicos, como crescimento, reprodução e metabolismo. Por exemplo, as proteínas são essenciais para a construção de tecidos, enquanto os carboidratos fornecem energia rápida.

4. Onde encontramos moléculas orgânicas no cotidiano?

Elas estão presentes em alimentos, combustíveis, medicamentos, plásticos, tecidos, e praticamente em tudo que usamos diariamente.

5. O que diferencia moléculas orgânicas de moléculas inorgânicas?

A principal diferença é que as moléculas orgânicas contêm carbono ligado a hidrogênio em sua estrutura, enquanto as moléculas inorgânicas não possuem essa característica específica.

6. Como as moléculas orgânicas são formadas?

Elas podem ser formadas naturalmente em organismos vivos por processos metabólicos ou artificialmente em laboratórios por meio de reações químicas controladas.

7. Qual é a relação entre moléculas orgânicas e saúde?

Moléculas orgânicas, como vitaminas, proteínas e ácidos graxos, são essenciais para a manutenção da saúde. Desequilíbrios podem levar a doenças, como deficiência de vitaminas ou problemas metabólicos.

8. Como as moléculas orgânicas estão relacionadas à sustentabilidade?

Elas são a base de biocombustíveis, plásticos biodegradáveis e outros materiais que podem substituir produtos sintéticos derivados de petróleo, promovendo práticas mais sustentáveis.

9. Por que o carbono é tão importante nas moléculas orgânicas?

O carbono é capaz de formar até quatro ligações químicas estáveis com outros átomos, o que permite a formação de estruturas complexas, como cadeias e anéis, essenciais para a diversidade das moléculas orgânicas.

10. Como o estudo dessas moléculas impacta a ciência?

O estudo dessas moléculas é crucial para avanços em medicina, biotecnologia, agricultura e na busca por soluções sustentáveis para problemas globais.

Leia também:

Google promete não impor o Gemini em proposta de remediação antitruste

OpenAI anuncia novos modelos o3

Artigos relacionados

Artigos recentes