Seja uma sobrancelha arqueada, um movimento de cabeça negativo ou um dedo indicador levantado, os humanos usam linguagem corporal e se comunicam silenciosamente por meio de gestos todos os dias. Essa habilidade é rara no reino animal, tendo sido observada apenas em primatas (Nature News: 10/08/2010). Agora, os cientistas podem adicionar um amigo emplumado ao clube.
Pesquisadores observaram o que chamam de “gesto ‘entre, por favor'” em chapins japoneses: um pássaro bate as asas, indicando para o seu parceiro entrar primeiro no ninho. A descoberta, publicada em 25 de março na revista Current Biology, “mostra que os chapins japoneses não apenas usam o bater de asas como um gesto simbólico, mas também em um contexto social complexo envolvendo um remetente, um destinatário e um objetivo específico, bem parecido com a forma como os humanos se comunicam”, diz o biólogo Toshitaka Suzuki, da Universidade de Tóquio.
Há mais de 17 anos, o pesquisador Suzuki estuda os chamados do chapim-da-eurásia (Parus minor). Durante esse extenso tempo de observação em campo, ele percebeu que, ao levar comida para o ninho, esses pássaros às vezes pousavam em um galho e agitavam as asas. Nesse momento, seus parceiros entravam no ninho, seguidos de perto pelo que agitou as asas.
“Isso me levou a investigar se esse comportamento preenche os critérios de um gesto”, afirma Suzuki.
Suzuki e Norimasa Sugita, pesquisador do Museu Nacional de Natureza e Ciência de Tóquio, observaram oito casais fazendo 321 idas ao ninho. Um padrão surgiu rapidamente: as fêmeas agitavam as asas com muito mais frequência do que os machos, com seis fêmeas usando esse comportamento, enquanto apenas um macho o fez. As fêmeas quase sempre entravam no ninho primeiro – a menos que agitassem as asas. Então, os machos entravam primeiro.
“As aves nunca batem as asas quando visitam o ninho sozinhas”, afirma Toshitaka Suzuki, da Universidade de Tokyo e líder da pesquisa. Esse comportamento só ocorre na presença do parceiro, e a batida parece direcionada a ele, e não apenas para a entrada do ninho. Essa observação sugere que os chapins-japoneses não estão apenas “apontando”, gesto simples já observado em aves como pega e corvo, mas sim comunicando uma mensagem mais elaborada.
“Podemos considerar isso como um gesto imperativo – um movimento que comunica a outro indivíduo a necessidade de fazer algo”, explica a primatologista Kirsty Graham, da Universidade de St. Andrews, na Escócia.
“É realmente empolgante descobrir gestos significativos em outra espécie”, acrescenta ela. “Provavelmente veremos que a comunicação por gestos é mais comum do que se pensava anteriormente.”
De acordo com Suzuki, a comunicação gestual perto do ninho, em vez de vocalizações, pode ajudar as aves a evitar predadores. O próximo passo da pesquisa é descobrir como o bater de asas se encaixa no amplo repertório de comunicação dos chapins. “Em humanos, os gestos são usados em combinação com a linguagem falada”, diz ele. “Estamos interessados em entender as mensagens criadas pela junção de gestos e vocalizações na comunicação animal.”